Como lidar com o sentimento de culpa?
Quanto mais rígida é a exposição desse valor e quanto maior é o peso que se dá a este princípio, vai se estabelecendo gradativamente um clima intrapsíquico compatível com o estado emocional de cobrança íntima.
O sentimento de culpa corresponde a outro grande desafio íntimo ao qual precisamos nos dedicar em estudo consciente. A culpa se estabelece como um registro familiar e cultural desde a mais tenra idade, na medida em que nossos genitores e condutores passam a nos transmitir os valores da vida, a partir de uma autoimagem que leva em alta consideração o peso massacrante da dualidade entre erro e acerto.
Neste princípio, a individualidade e a espontaneidade da criança não são levadas em consideração, na mesma proporção. Errar e ser punido de alguma forma passa a ser lugar comum no comportamento social e familiar, e a criança incorpora esse valor como parte de seu conceito de identidade
. Quanto mais rígida é a exposição desse valor e quanto maior é o peso que se dá a este princípio, vai se estabelecendo gradativamente um clima intrapsíquico compatível com o estado emocional de cobrança íntima.
A repercussão imediata que se estrutura diz respeito ao pensamento formal que passa a reger as vontades. Efetivamente, tal forma de pensar automatiza-se como se fosse um “programa de computador emocional”.
Então, toda situação de autoavaliação necessária aciona esse “programa”, que em sua constituição fora montado para classificar que todo erro é sinonímia de punição!
Por sua vez, os erros enquanto conceito estão ligados aos valores culturais, religiosos e familiares. Dependendo de onde vivo e com quem fui criado posso estar errado e me avaliar como tal.
Se não fui bem na escola, se expresso minha raiva ou minha dúvida. Se tenho pensamentos proibidos, se não tenho sucesso como meus amigos, se desenvolvi alguma doença, se estou magro ou gordo!
Portanto, nossa capacidade de autoavaliação também conta muito nesse jogo da culpa!
Se você consegue ser flexível nessa avaliação consigo mesmo e não deixa de assumir suas responsabilidades, inerentes aos compromissos assumidos, então não terás problema com esta senhora culpa!
Caso contrário, quando sua estrutura psíquica possui um programa emocional rígido, baseado nos aspectos anteriormente descritos, você tenderá a uma autoavaliação que não leva em consideração a flexibilidade.
Você até sabe que é possível ser flexível consigo mesmo, mas simplesmente não reconhece como, não existe uma marca psíquica que lhe indique um caminho a ser trilhado para desenvolver esta capacidade de desculpar-se! Com o tempo você desenvolve um clima de temor em relação a possibilidade de errar, pois seus registros indicam uma punição imediata, que se apresenta na forma de pensamentos de autocrítica, seguidos de comportamentos autopunitivos. Esses comportamentos vão assumindo parte do seu jeito de ser e você passa a se reconhecer desta forma. E dentro de sua subconsciência, um clima forte de “eu não erro... Eu não me permito errar... O erro não faz parte do meu vocabulário”, passa a vigorar como uma espécie de lei!
Todo esse jogo entre seus registros psíquicos, sentimentos e sua autoavaliação, estabelecem um estado emocional que denomino de crise emocional latente de culpa.