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MEDO

Tudo em seu psiquismo vira um caminho sem saída, um labirinto intransponível, e a tensão ganha um vulto muitas vezes insuportável, gerando sensações de emergência emocional.

Todo o medo tem sua origem no apego que temos em relação a nossa autoimagem.


Quando criança você tem medo de perder seu brinquedo, seu espaço, seus pais e toda a atenção e cuidados que recebe. Se não teve nada disso, tem medo de perder o pouco que teve da tia, da avó, do amiguinho e até do pai postiço do orfanato.
Na adolescência você tem medo de não ser aceito na sua turma, de perder as regalias que conquistou sendo um bom filho, de não saber o que vai “ser” quando crescer, de ficar muito magro ou gordo, de ficar chato, de não ser original.
E quando se torna adulto, mantém todos esses medos e muitos outros, com a diferença e o acréscimo do medo de que as pessoas ao seu redor saibam que você é um grande medroso.
Então você começa a esconder os seus próprios medos de si mesmo e isso se estrutura de tal forma que os seus verdadeiros limites passam a não serem reconhecidos por sua consciência.
Você não desenvolveu uma consciência plena em relação aos seus limites íntimos, aos medos reais, aos sentimentos reais. Tudo está escondido!
Então quando a vida te exige uma postura frente às situações críticas, a novos desafios, simplesmente o seu consciente não possui recursos para desenvolver uma resposta satisfatória e psicologicamente adequada.
Tudo em seu psiquismo vira um caminho sem saída, um labirinto intransponível, e a tensão ganha um vulto muitas vezes insuportável, gerando sensações de emergência emocional.
Um pequeno conflito vira um cataclismo, uma discussão gera desespero, uma decisão a ser tomada cria um abismo dentro de você!
Costumo lembrar de uma história onde uma mulher que sofria de muito medo, a ponto de não sair mais de casa, se sentindo paralisada buscou ajuda com o médico, que lhe perguntou:
- De quê tens medo?
- De tudo... De ser julgada, criticada. Por exemplo, não vou a festa de família amanhã! Sinto-me assim, com vergonha! Imagina, vão falar de mim... Tem “problema de cabeça” essa aí!
E por mais que o médico lhe orientasse que seria melhor ir e testar o medo da crítica e do preconceito ela não conseguiu!
No retorno, ele perguntou:
- O que pode simbolizar esse medo todo da crítica? E se você tivesse ido e as pessoas realmente te criticassem, o que você teria feito?
E ela respondeu:
- Teria mandado todos cuidarem das suas vidas!
- Então você teria coragem para dizer isto? – respondeu o médico
E ela disse:
- Sim! Mas depois sairia correndo!
O que estou querendo dizer é que quando você passa a vida inteira sem aceitar seus medos reais, consequentemente, não aceita grande parte do seu verdadeiro eu! Não aceita que é simplesmente você mesmo, que tem os seus próprios sentimentos, que tem preferências. Queria dizer não, mas disse sim!
Tudo por conta de uma imagem que você construiu no seu inconsciente e da qual o consciente tem que se responsabilizar e cuidar. E isto é muito injusto, com você mesmo!
Essa imagem é carregada de um estado de espírito que você acredita que não pode ser rompido, ou que você não aguentaria que fosse modificado!
É o famoso “sou assim e pronto”! É o famigerado orgulho próprio!
O orgulho é parceiro constante da vaidade, que o nutre com pensamentos de negação da realidade.
Como então você conseguirá se libertar desse medo todo, que te oprime e avassala a sua vida?
Entender essa dinâmica e exercitar o desapego do orgulho e da imagem que você tem de si mesmo é o caminho, um verdadeiro antídoto contra os diversos núcleos de medo que existem em você!
Frequentemente dizem: “tenho o meu orgulho próprio”...”fui ferido em meu orgulho” ...”afinal de contas não tenho sangue de baratas!”
Justifica-se toda a sorte de atos reativos e de atitudes explosivas e implosivas, baseadas no orgulho. Desta forma você fica à mercê, ou seja, perde o controle sobre o seu estado de espírito!
Tal estado passa a possuí-lo e não o contrário.
Você precisa possuir o seu próprio estado de espírito e não ser possuído!
Poucos são aqueles que estão hoje libertos desse apego, e a maioria das pessoas vivem o tempo todo apegadas emocionalmente a esses estados de espírito e, portanto, vivem muito mal.
É uma vida repleta de desencontros íntimos projetados na relação com o mundo, fazendo com que a realidade da intimidade do indivíduo se perca na figura massacrante da coletividade.
Afinal, a sociedade vai te analisar, te criticar e dizer se és certo ou errado e você acredita nisso, muito mais do que em suas próprias avaliações, que se desenvolveram temerosamente, vergonhosamente.
O apego ao orgulho gera sempre um receio muito desproporcional de errar, como se fosse proibido. Acertar é a única condição possível no psiquismo e, dessa forma, toda a contrariedade ou rejeição passa a funcionar como um mecanismo de tensão íntima.
É gerador de medo desproporcional, paralisante do sistema nervoso emocional, retardando a evolução natural do indivíduo!
Somente acertar é o conteúdo emocional utilizado pela vaidade, que constitui erva daninha para o autoconhecimento.
Você precisa providenciar urgentemente meios de esclarecimento e aceitação dessa condição em que vive. Proponho um grande movimento de separação, de divórcio íntimo, desses estados de espírito.
Assim, você interromperá essa gigantesca onda de medo e de dependência que te assola e bloqueia sua naturalidade individual.
E, antes de qualquer ideia ou concepção, será uma questão de lógica no lidar com a sua real condição íntima.
Enquanto o ser humano não despertar nesse sentido e em seus reais sentidos, permanecerá vítima de sua própria insensatez, sendo o autor e protagonista de todos os quadros de fuga para dependências e desajustes emocionais, geradores de comportamentos viciados e doentios. 

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